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Prazer, Kobe

Estava nos EUA visitando um grande amigo. Antes de ir já tinha programado que queria ver um jogo do Lakers, ver Kobe uma única e última vez. Eu torcedor do Heat, do Flash. Comigo, um torcedor do Suns, discípulo de Steve Nash. Ambos já tinham sofrido muito na mão de Kobe Bryant. Mesmo assim, ansiosos com um jogo que marcaria pra sempre nossas vidas.

O grande dia chegou, 22 de março de 2016, Memphis Grizzilies x Los Angeles Lakers. Peguei um “lyft”, conversei com o motorista, e para sua surpresa entendia mais de basquete que ele esperava. O Staple é lindo, muito mais que nas fotos, quase um lugar sagrado. Ao entrar ganhei um “Bobblehead” (que infelizmente não parece nada) do camisa 24. Tirei foto com um modelo dele de papelão e subi para meu lugar.

Estive em três partidas de NBA em 21 anos, pouco para um jovem escrever mas, nenhuma delas se comparou a essa. O ambiente era novo, uma torcida apaixonada e todos com aquele sorriso que quase se confunde com um choro. Impossível falar de Kobe sem se emocionar, sem falar de si próprio, sem voltar ao passado e repensar tudo que se sabe de basquete. Era o último confronto entre duas lendas, Vince Carter e Kobe Bryant. Algo lindo de se ver.

A bola subiu. O time visitante muito melhor em sua campanha parecia intimidado, deixando seu jogo ofensivo nas mãos de Zach Randolph e Tony Allen. Do outro lado Jordan Clarkson comandava. Primeira bola nas mãos de Bryant, a torcida foi a loucura, errou. Segunda, errou. Terceira, nada. Quarta. Foram sete arremessos e nenhum acerto. A frustração era grande, em sua pior temporada Kobe sentia o peso cada vez mais.

Até que recebeu a bola na ponta da área, fingiu que ia tocar e chutou de três, caiu. Torci como nunca, gritei e me emocionei. O jogo seguiu, mais bolas de três, o clássico “fadeaway”, sofreu falta, converteu lance-livre.

Quando a partida apertou ele pediu a bola, o confronto contra Matt Barnes (sempre vaiado pela torcida) era desleal, por melhor que seja defensivamente o adversário. Senti um jogador confiante, aquele mesmo que já fez 81 pontos, que já calou o Garden várias vezes, que já foi o garoto problema de Phill Jackson.

O jogo acabou com a vitória do time da casa, 107x100. Clarkson fez 22 pontos, Julius Randle 13 pontos e 14 rebotes. Para o Grizzilies, um Tony Allen muito bem ofensivamente com 27 pontos, acertou tudo, 12–12. Mas nada disso era maior que os 20 pontos de Kobe. Em uma noite que tudo podia acontecer, Mamba poderia nem jogar e o Lakers poderia ter tomado uma varrida. Foi o oposto, vitória com o camisa 24 bem e levando os 18,997 torcedores a loucura.

O jogo acabou, desci a escada rolante e fui embora. Na volta, outra grata surpresa, o motorista do “lyft” contou que foi funcionário do Lakers por 10 anos. Nada melhor que após um grande jogo ouvir histórias sobre Magic Johnson e o início de Shaq e Kobe. Cheguei no hotel e demorei a dormir, não conseguia desligar. Parecia um sonho, algo além do que poderia imaginar. Me senti bem, como não me sentia a anos, adormeci com sorriso e tudo graças ao melhor jogador que já vi jogar.